sábado, 2 de outubro de 2010

Inhotim_ Grupo

Adriana Varejão utiliza a pintura como suporte para a ficção histórica e a exploração de temas como a teatralidade, o desejo e os artifícios presentes no barroco. Em suas obras tridimensionais, rupturas na tela apresentam um interior visceral sangrento, formado de elementos escultóricos ou arquitetônicos.
Nestes trabalhos reunidos no Inhotim, é possível acompanhar a diversidade de interesses da obra de Adriana e a variedade de fontes de sua pesquisa - a abstração, a ruína, o monumento, o monocromatismo, a violência; a história, as ciências naturais, a arquitetura. No pavilhão de Inhotim, a obra da artista pode ser vista de maneira única. Tanto o percurso das obras quanto o partido da arquitetura foram desenvolvidos em próximo diálogo entre Varejão e o arquiteto Rodrigo Cerviño Lopez, que projetou o prédio para um conjunto de obras pré-existentes, que a artista completou com outras criadas in situ.




Iniciando o percurso, está Panacea phantastica (2003-2007), um políptico (composição de cinco obras) de azulejos que tem retratados as espécies Darlingtonia, Dionaea, Drosera, Heliamphora e Nepenthes, todas plantas carnívoras, alucinógenas de diversas partes do mundo. Ao contrário dos grandes painéis, que na azulejaria tradicional narram acontecimentos históricos, aqui cada azulejo representa uma figura isolada, em contraste com a narrativa épica de Celacanto provoca maremoto (2004-2008). Num dos azulejos, um texto sugere a relação entre os efeitos alucinógenos das plantas e mudanças na percepção que podem ser provocadas também pela arte. É uma pintura de forro que pode ser visualizada a partir do primeiro ou do segundo piso.

O azulejo, um dos motes recorrentes da obra de Varejão, reaparece em Linda do Rosário (2004) e em O colecionador (2008). O primeiro é uma das mais importantes obras da série Charques. Nestas esculturas, a arquitetura se associa ao corpo, e a matéria de construção se torna carne. A obra foi inspirada no desabamento do Hotel Linda do Rosário, no centro do Rio de Janeiro, em 2002, cujas paredes azulejadas caíram sobre um casal num dos cômodos do prédio. O colecionador, por sua vez, é a maior pintura da série Saunas, e faz uso de uma palheta quase monocromática para criar um labirinto interior idealizado. Com seus jogos de luz e sombras, a pintura evoca espaços de prazer e sensualidade e reflete a arquitetura do pavilhão, propondo uma continuidade virtual do espaço.